O vinho precisa contratar uma nova agência de relações públicas para ajudar com sua imagem junto às igrejas evangélicas, visto que ele é frequentemente ignorado por muitos cristãos brasileiros hoje. Não tenho tempo ou interesse em analisar por que o vinho caiu em maus lençóis entre muitas igrejas que creem na Bíblia, mas estou interessado em ajudar a pintar um quadro mais biblicamente fiel dele na esperança de conseguir encorajar meus irmãos e irmãs a entendê-lo como um dom, uma imagem usada na Escritura para ensinar a verdade sobre Deus e como um elemento da nossa fé e prática cristãs.
O que é o vinho?
O vinho é o suco fermentado de uvas prensadas; uma bebida alcóolica que pode levar à embriaguez, caso consumida em excesso. A maioria de nós sabe o que o vinho é, embora alguns professores tenham tentado explicar que o vinho na Escritura às vezes é vinho e, outras, suco de uva. A verdade pura é que os melhores estudiosos bíblicos argumentam, de forma consistente e clara, que não apenas o “vinho” na Bíblia é alcoólico, como também afirmam que o suco não-fermentado de uva seria praticamente uma impossibilidade. D. F. Watson declara isso com toda franqueza em The Dictionary of Jesus and the Gospels, em seu artigo Wine [Vinho], quando ele diz que “todo vinho mencionado na Bíblia é suco de uva fermentado com teor alcoólico. Nenhuma bebida não-fermentada era chamada de vinho”.
Quem bebia vinho na Bíblia?
Quase todo mundo. Beber vinho era normativo para os judeus (Gn 14.18; Jz 19.19; 1 Sm 16.20), embora os sacerdotes levitas no serviço do templo (Lv 10.8–9), os nazireus (Nm 6.3) e os recabitas (Jr 35.1–3) se abstivessem dele. No Novo Testamento, João Batista também se absteve.
A despeito do que alguns alegam hoje, o próprio Jesus bebeu vinho (Lc 22.18; Mt 11.18–19; 26.27–29), e foi acusado de beberrão por seus acusadores.
Pois veio João, que não comia nem bebia, e dizem: Tem demônio! Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores! Mas a sabedoria é justificada por suas obras (Mt 11.18–19).
Como o vinho é descrito na Escritura?
O vinho era a bebida comum dos judeus, usufruído com refeições e compartilhado com amigos (Gn 14.18; Jo 2.3). Era também uma parte essencial da adoração do povo de Deus em ambos os Testamentos.
A “oferta de bebida” consistia de vinho (Êx 29.40; LV 23.13), e o povo de Deus trazia vinho por ocasião dos sacrifícios de oferta (1 Sm 1.24). Os judeus, inclusive, guardavam vinho no templo (1 Cr 9.29). Em Isaías 62.9, o povo é abençoado pelo Senhor de tal maneira que é descrito bebendo vinho no santuário diante da presença de Deus. Em Deuteronômio 14.22–27, lemos o seguinte:
"Certamente, darás os dízimos de todo o fruto das tuas sementes, que ano após ano se recolher do campo. E, perante o SENHOR, teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu cereal, do teu vinho, do teu azeite e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer o SENHOR, teu Deus, todos os dias. Quando o caminho te for comprido demais, que os não possas levar, por estar longe de ti o lugar que o SENHOR, teu Deus, escolher para ali pôr o seu nome, quando o SENHOR, teu Deus, te tiver abençoado, então, vende-os, e leva o dinheiro na tua mão, e vai ao lugar que o SENHOR, teu Deus, escolher. Esse dinheiro, dá-lo-ás por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, ou ovelhas, ou vinho, ou bebida forte, ou qualquer coisa que te pedir a tua alma; come-o ali perante o SENHOR, teu Deus, e te alegrarás, tu e a tua casa; porém não desampararás o levita que está dentro da tua cidade, pois não tem parte nem herança contigo.
O vinho foi usado na celebração da páscoa e é usado na celebração da Ceia do Senhor no Novo Testamento (Lc 22.7–23; 1 Co 11.17–32). Para mais informações, leia o meu post Wine or Welch’s?
Ele também é usado com fins medicinais, para ajudar o fraco e o doente (2 Sm 16.2; Pv 31.6; 1 Tm 5.23).
Não é forçado dizer que Deus gosta de vinho. Ele estava associado com a vida, as bênçãos divinas e o reino de Deus. Em Juízes 9.13, lemos que o vinho é aquilo que “agrada a Deus e aos homens”. O Salmo 104.15 retrata o vinho de modo semelhante, dizendo que ele “alegra o coração do homem” (Ec 10.19; Is 55.1–2; Zc 10.7). (Ver Walter A. Elwell and Barry J. Beitzel, Baker Encyclopedia of the Bible). Até mesmo o cumprimento futuro do reino de Deus é caracterizado pela abundância de vinho (Is 25.6–8; Amós 9.13).
Naturalmente, nem toda referência ao vinho na Bíblia é positiva. A bebedice é condenada, e o povo de Deus é advertido contra os perigos da embriaguez (Is 28.1–7; Ef 5.18; Is 5.11; Tt 2.3).
Em seu livro What Would Jesus Drink [O que Jesus beberia[1]], Brad Whittington divide as referências bíblicas ao álcool em três tipos. Ao todo, existem 247 referências ao álcool na Escritura. 40 são negativas (advertências sobre a bebedice, perigos potenciais do álcool etc.), 145 são positivas (sinal da benção divina, uso no culto etc.) e 62 são neutras (pessoas acusadas falsamente de estarem bêbadas, votos de abstinência etc.). A Bíblia é tudo, menos silenciosa sobre a questão do vinho. Ele, como todo álcool, deve ser tratado com cuidado, visto como uma bênção e recebido com ações de graças entre aqueles que o bebem. Não deve ser consumido excessivamente.
O vinho na Bíblia era misturado com água?
De acordo com F. S. Fitzsimmonds, em seu artigo “Wine and Strong Drink” [Vinho e bebida forte] no New Bible Dictionary, a resposta é “não”. Pelo menos, não no Antigo Testamento. No Novo Testamento, o vinho provavelmente era misturado com duas partes de água para uma de vinho. Alguns que se opõem ao uso do vinho como uma bebida argumentam que o vinho na Escritura era tão diluído com água que era difícil ficar bêbado. Parece que o vinho no Novo Testamento, caso misturado, teria o mesmo teor alcoólico que as cervejas de hoje. (Ver, também, a Baker Encyclopedia of the Bible).
Qual deve ser a atitude cristã para com o vinho?
É importante que os cristãos entendam o quadro completo. O vinho é visto como uma bênção divina e como um meio potencial pelo qual as pessoas trazem destruição sobre si mesmas.
"Esses dois aspectos do vinho — seu uso e seu abuso, seus benefícios e sua maldição, sua aceitação à vista de Deus e sua aversão — estão entrelaçados na estrutura do Antigo Testamento para que possa alegrar o coração do homem (Sl 104.15) ou levar sua mente ao engano (Is 28.7); ele pode ser associado com o festim (Ec 10.19) ou com a ira (Is 5.11); pode ser usado para encobrir a vergonha de Noé (Gn 9.21) ou, nas mãos de Melquisedeque, para honrar Abraão (Gn 14.18).– F. S. Fitzsimmonds, “Wine and Strong Drink”, no New Bible Dictionary.
Os cristãos devem ser cautelosos com o vinho e a bebida forte, exercendo moderação e domínio próprio. E em relação ao outro, é importante que levemos em conta a liberdade sem sermos julgados nem por beber nem por se abster. Pode-se beber para a glória de Deus, enquanto o outro pode se abster para a glória de Deus.
O que é o vinho?
O vinho é um dom de Deus. Nele vemos o amor de Deus em proporcionar vida e alegria para todas as pessoas. Mas também enxergamos um sentido mais profundo. No vinho vemos o amor de Deus no sacrifício de Jesus Cristo, que remove nossa culpa, satisfaz a ira de Deus e salva a todos os que creem.
Traduzido e gentilmente cedido por Leonardo Bruno Galdino
Notas:
[1] Não confundir com o livro homônimo de Joel McDurmon, publicado em português pela Editora Monergismo. [Nota do Tradutor.]
Por Joe Thorn
Fonte: reforma21
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