17/09/2022

Quando a igreja se torna uma amante

Foto de Josh Willink no Pexels
Tenho percebido ao longo dos anos no ministério, e, nos últimos seis anos como fundador e presidente do Conselho  de Pastores aqui na cidade, coisas que na verdade não são novidades para meus pares, esse é apenas mais um assunto entre outros, que pastores não gostam muito de falar. Talvez por medo de se reconhecerem exatamente na mesma situação do colega na narrativa abaixo.
Eu vivi assim por um tempo, e, não bastasse, carreguei minha esposa por essa "via crúcis" que muitas vezes o trabalho pastoral acaba se tornando na vida de muitos. Seria demasiadamente extenso e enfadonho narrar aqui os "porquês" ou "meus porquês", muda um parágrafo aqui ou ali, mas a história e as desculpas, via de regra, são as mesmas, assim como as  nefastas consequências, para esposa, filhos, e para nós  mesmos, quando, em nome de Deus e da sua igreja, nos enveredamos, freneticamente e quase que, incansavelmente no ativismo religioso, as vezes enredados em métodos e sistemas religiosos, inventados por homens, que, pra variar, dizem ter recebido tais orientações de Deus, e, por isso, são puras, santas e trarão o tão sonhado crescimento esperado.
Sim, o título do postagem pode soar esquisito, para alguns, até profano, mais a singularidade no que diz respeito aos estragos, é mais que apropriado.
Siga:
Tornou-se modinha menosprezar a igreja. As pessoas gostam de colocar a culpa de seus problemas na “igreja”.
Você pode ouvir essas críticas na cultura popular. Peguemos, por exemplo, a música “Intervention” da banda Arcade Fire:
"Trabalhando para a Igreja enquanto sua família morre
Você pega o que te dão e guarda no interior
Cada faísca de amizade e amor morrerão sem um lar
Ouça o gemido do soldado", “Nós vamos chorar sozinhos"
A música pinta a igreja como uma instituição militante, motivada por disciplina e um insuportável trabalho ético. O personagem principal sacrifica sua família no altar da “igreja” ou ministério. Isto acontece frequentemente. Muitas vezes, as igrejas têm mais em comum com Wall Street do que com as Escrituras. Eles aplicam um trabalho ético piedoso em nome da “misericórdia ou “ministério evangélico”. Muito trabalho sem diversão.

Há uma Amante na casa

No meu primeiro ano de implantação de igreja, comecei um novo trabalho em tempo integral, em uma nova cidade, com uma nova filha e em uma nova igreja. Adivinhem quem ficou com menos atenção? Família. Como todas as coisas novas que preenchem nossas vidas, elas começaram a ocupar os diálogos com minha esposa. O que antes era natural – conversar sobre medos, alegrias e esperanças de minha esposa – tornou-se artificial, cada vez mais distante de nossas conversas. Ela pacientemente continuava a perguntar como eu andava, mas eu estava “trabalhando para a igreja enquanto minha família morria”.
Quando minha esposa começou a murchar, sem o amor revigorante de seu marido, ela revelou o caso. Nunca esqueci seu comentário esmagador: “Eu sinto que há uma amante em casa”. Fiquei alarmado e surpreso. Como ela ousa fazer tal comentário! Afinal, eu fazia questão de estar em casa as 17h30 e aos finais de semana. Assegurava que tínhamos bons rituais familiares – lanches e devocionais, jantares e tempos livres. Como ela poderia dizer que havia uma amante em nossa casa? Então me dei conta que você pode estar em casa sem estar em casa. Eu estava presente, mas, ao mesmo tempo, ausente. Enquanto estava em casa, meus pensamentos, emoções e preocupações estavam com outra Noiva, não com a minha noiva.
Eu sentia uma distância gradual crescendo entre nós, mas ignorei-a para atender duas crianças menores de dois anos e as demandas importantes da igreja. Eu estava errado e o Arcade Fire estava certo. A chama do amor não pode viver sem um lar. Uma casa não é suficiente. Estar presente não resolve. O que nossos relacionamentos precisam é de um lar, um lugar onde a família possa rir, brincar, chorar e ter conversas profundas juntos.

Redescobrindo seu Primeiro Amor

O que antes era normal tornou-se um dever. Comecei a me disciplinar a transformar conversas de igreja, trabalho e ministério em diálogos com minha esposa e nossos filhos. Comecei a amá-la quando conversávamos sobre seus sonhos, temores, esperanças, para incentivar seus hobbies e amizades. Eu reaprendi a simpatizar e sofrer, alegrar e rir com ela. A chama do amor começou a acender lentamente. O calor da amizade começou a renascer em nossa casa reerguida. Meu pensamento era que a disciplina poderia dar forma ao desejo. Mas disciplina não era suficiente.
O que minha esposa queria, e o que toda esposa quer, não é disciplina, nem um marido que cumpre apenas seus deveres maritais, mas um amante, um marido que a deseja. Um marido que, quando agradecido por um final de semana com a família reunida, diz a sua esposa: “É meu prazer” não “É meu dever”! Nossas esposas querem ser desejadas, amadas, valorizadas. Na verdade, todas as pessoas querem ser amadas, mas até limparmos as idolatrias sutis da prateleira de nossos corações, a disciplina não vai ceder ao desejo. Precisamos eliminar nossas “amantes”.

Arrependimento significa Boas Notícias

A fim de expulsarmos nossos amantes pecaminosos, precisamos de um poder externo a nós mesmos. Precisamos do arrependimento e da fé. Em Apocalipse 2 e 3, Jesus chama as sete igrejas ao arrependimento. Por exemplo, ele escreveu a igreja de Laodicéia: “Repreendo e disciplino aqueles que eu amo. Por isso, seja diligente e arrependa-se”. Em amor, Jesus nos chama para nos arrependermos cuidadosamente.
Me arrependi de amar o valor que meu trabalho me proporcionava, a importância que recebia ao servir minha igreja. Arrependimento é transformar-se. A prova do arrependimento não está em nossas confissões ou resoluções, mas em mudar de nossas amantes em direção ao nosso Salvador. Onde conseguimos o poder do arrependimento? Como derrotamos esses amores menores? Pela fé fortalecida pelo Espírito nas promessas de Deus.
Todos que trabalham demais e amam de menos precisam de arrependimento. Precisamos confessar nossas idolatrias de sermos valorizados pelo trabalho, de termos significado por servirmos, e encararmos o amor, aceitação completa e o interminável significado que nos são oferecidos nos braços de nosso Salvador. Através da confiança fortalecida pelo Espírito nas promessas de Deus, podemos aproximar-nos de Cristo e receber seu perfeito amor, aceitação e graça. Somente depois desse entendimento que podemos amar verdadeiramente nossos cônjuges e familiares. Quando estamos satisfeitos em Cristo, podemos satisfazer nossas esposas. Quando somos amados por Cristo, podemos livremente amar os outros.
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Não devemos trabalhar tão duro para a igreja, corporação ou empresa de maneira que deixemos nossas famílias morrer. Podemos construir um lar cheio de amor, se Cristo estiver no lugar central. Quando abraçamos a prática de arrependimento e fé em Jesus, a idolatria do trabalho pode ser afastada, com Cristo no centro de nossas afeições. Somente então estaremos livres para amar verdadeiramente os outros. Quando fazemos isto, embelezamos o evangelho de Cristo e restauramos a reputação da igreja, revelando as glórias do evangelho nas bênçãos do casamento.

Para refletir

  1. Você precisa confessar seu caso com a Igreja/Trabalho à Deus e para sua esposa?
  2. Que tipos de idolatria têm motivado seu caso com a Igreja/ Trabalho?
  3. Você pode abraçar as boas novas do arrependimento para uma mudança verdadeira?
  4. Há alguém em sua vida que possa regularmente te exortar a abandonar a amante e relembrá-lo que Cristo é sua identidade?
Traduzido por André Carvalho | iPródigo.com | Original aqui
Por Jonathan Dodson

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Anselmo Melo
Anselmo Melo, Carioca, casado e pai de três filhos (herança do Senhor). Pastor Evangélico e empresário. Moro atualmente no Estado de São Paulo onde pastoreio a Igreja de Nova Vida em Limeira. Sou fundador e presidente da Associação Projeto Resgate Vida.

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